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PERSÉPOLIS: Sobre um Irã que um dia já foi Pérsia

Hoje vamos combinar dois elementos fascinantes e que despertam muita curiosidade: Geopolítica e Cinema.

 

Tendo em vista o momento em que o mundo testemunha uma eletrizante batalha na atual guerra contra o terror, onde Israel e Irã se alternam em bombardear seus territórios, necessário se faz voltar a atenção ao contexto que nos levou até este quadro calamitoso e extremo, onde ambos os países lutam como se o amanhã não existisse.

 

Sobre Israel, muito tem se falado desde 07 de outubro de 2023, dia em que aquele país sofreu seu pior ataque surpresa (entre outros na sua relativamente curta cronologia como nação politicamente constituída), que aconteceu logo após a celebração do Yom Kippur, o dia mais importante do calendário judaico, figurando como o mais sangrento episódio contra o povo hebreu desde o Holocausto nazista.

 

Sem desmerecer o rico acervo de informação que Israel tem a nos dispor, hoje nos concentramos no seu arquirrival mais acirrado, sob cujo governo paira a acusação de financiamento de diversos proxies (agentes militares que agem sob uma espécie de procuração) que vêm tirando a paz da única democracia formal do Oriente Médio.

 

Hamas, Hezbollah, Houtis, Brigadas de Al-Aqsa, entre outros. Todos estes entidades que empreendem uma incessante guerra contra o pequeno país surgido sob o sonho sionista e que se reportam diretamente a um mandante não muito distante dali, erroneamente tido como mais um país árabe, mas que com estes compartilha somente certas similaridades, a exemplo da religião muçulmana.

 

Sim, o Irã é a terra dos persas, povo milenar que muito contribuiu ao mundo, em diversos campos, tais como na Matemática, na Astronomia, na Medicina, além de ser conhecido pelo seus inigualáveis e elaborados tapetes e por ter criado o primeiro sistema organizado de correios do mundo (o Angarium), bem como a mais antiga manifestação religiosa monoteísta, o zoroastrismo.

Xá Reza Pahlevi, sua esposa Farah Diba e um de seus filhos, Ciro.
Xá Reza Pahlevi, sua esposa Farah Diba e um de seus filhos, Ciro.

 

Mas o Irã já se chamou Pérsia, e a troca de seu nome não foi um mero ato advindo de decreto governamental: envolveu décadas de transformações sociais e turbações religiosas, que um dia irrompeu num movimento orgânico e que culminou numa reviravolta geopolítica deveras impactante, forte o suficiente para balançar os alicerces daquela terra vetusta.

 

Retornemos então à premissa que nos fez iniciar esta conversa: o que tem a ver a atual República Islâmica do Irã com o cinema, e especialmente com... desenhos animados? Se levarmos em consideração PERSÉPOLIS (Persepolis - França/2008), muita coisa.

 

Foi por meio deste recurso que Marjane Satrapi, no seu ofício de diretora, realizou um trabalho autobiográfico e mostrou ao mundo um panorama nem tanto desconhecido do seu país de nascimento (hoje ela reside na França), apenas tornando temas tão sérios e intrínsecos à história daquela nação mais disponível para o grande público.

 

Cartaz de "Persépolis"
Cartaz de "Persépolis"

A trama é centrada na história da pequena Marjane, uma menina que cresce numa família de classe média antes da Revolução Islâmica de 1979, sonhando em ser uma profeta de Deus e mudar o mundo. 

 

Ser classe média no Irã, naquela época ainda chamado de Pérsia, em tese significava estar alinhado com o governo do xá Reza Pahlevi, que ocidentalizou o país e aboliu instituições que representavam, na sua ótica, um atraso à modernização, o que foi feito muitas vezes de forma arbitrária.

 

Por esta razão, muitos cidadãos medianos, ou mesmo ricos, não gostavam de Reza Pahlevi, que na hora de descer o sarrafo não poupava nem que havia sido seu aliado, realidade que tocou impiedosamente o lar de Marjane. 

 

De logo, ela cresce num ambiente onde o xá é tido como um mandatário tirano, o que fomenta mais ainda o desejo da pequena garota em transformar o planeta.

 

Com a derrubada do xá, o cotidiano da família muda, junto com o de todas as outras famílias iranianas. Para pior ou para melhor, de acordo com a ideologia que cada um segue. Todavia, todos estão esperançosos por um governo que valorize a cultura persa e rompa com o contexto de injustiça social onipresente.

 

Cena da Revolução de 1979, que colocou no governo do Irã o Ayatollah Khomeini (ilustrado no cartaz da foto)
Cena da Revolução de 1979, que colocou no governo do Irã o Ayatollah Khomeini (ilustrado no cartaz da foto)

Os eventos narrados a partir daí – o rompimento com os EUA, a guerra Irã x Iraque, o recrudescimento do fundamentalismo religioso – são disposto de forma linear e honesta, e Marjane oscila entre Irã e Europa, refletindo o dilema de muitos de seus compatriotas, que tiveram de optar pelo exílio, mesmo que a contragosto, para não se curvar ao severo regime político estabelecido após a Revolução de 1979.

 

Marjane, apesar de viver a frustração coletiva de ver um novo governo que piorou ainda mais a situação do país, alimenta continuamente sua veia revolucionária, se insurgindo contra tudo o que diz respeito ao atual quadro de descontentamento na terra dos aiatolás.

 

O filme do Prêmio do Júri do Festival de Cannes de 2007.

 

Nota de 0 a 10 = NOTA 9!

 

É bem provável que não exista outra maneira mais descontraída de se conhecer tão profundamente a história recente do Irã dentro do campo da Sétima Arte.

 

Evidente o fato que está à disposição da plateia filmes como Argo ou Nunca Sem Minha Filha – estes transmissores da visão ocidental do assunto – além do variadíssimo acervo de filmes iranianos (mais intimistas e quase todos muito bons), sem contar os diversos documentários que abundam na web.

 

Porém, PERSÉPOLIS, nome da capital do Império Aquemênida, que reinou no que hoje é território iraniano e que foi desmantelado por Alexandre, o Grande, é surpreendente, é divertido.

 

É único em sua espécie, e que se converte em parada obrigatória para se compreender a dinâmica de um país que está vendo sua história mudar num ritmo frenético nos últimos dias, dada a chance real de, mais uma vez, mudar seu regime político.


Segue abaixo o trailer de PERSÉPOLIS.




Rede VOX NEWS

Fonte, Matéria e Produção: Geisel Ramos

Publicação: Geisel Ramos  


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